CAFUNÉ De Mário Zambujal

A propósito da deliciosa leitura do “Cafuné” de Mário Zambujal que trata de alguns episódios caricatos antes, durante e após a partida da família real para o Brasil em finais de 1807 na sequência da primeira invasão francesa, fui buscar à prateleira o “1808” de Laurentino Gomes.

Desfolhei o livro de Laurentino e detive-me em alguns capítulos tentando estabelecer ligações com o País de hoje, duzentos e poucos anos depois. Quando o li pela primeira vez em 2008 parecia-me estar a conhecer a história de um outro Portugal ou, pelo menos, de há muitos mais séculos para trás. Mas não, tratava-se de um Portugal tão próximo que muitos problemas subsistem até hoje. O destino do nosso País em 1807 era ser protetorado de uma de duas potências estrangeiras – França de Napoleão ou Inglaterra. A família real quando partiu levou tudo incluindo o tesouro. Os portugueses ficaram sem “um tostão furado ao meio” – literalmente na bancarrota. Era o princípio de um ciclo de miséria no nosso País.

Neste início do século XXI somos protetorado outra vez. Agora de uma maneira mais sofisticada porque os “conquistadores” não se apresentam de armadura e espada à cinta. Como há duzentos anos, também estamos entre a “madrasta europa” e o caminho dos oceanos. Descontando o facto dos oceanos já não nos transportarem aos quatro cantos do império, acho eu que sempre será melhor navegarmos ativamente no espaço da Lusofonia do que continuarmos a ser espezinhados, humilhados e roubados.

Mário Zambujal, jornalista, cronista e escritor nasceu em Moura em 1936, trabalhou em vários jornais de Lisboa, na RTP e tem escrito obras sempre com grande sucesso. O seu livro mais conhecido é a “Crónica dos Bons Malandros” escrito em 1980. Esta história foi adaptada ao cinema por Fernando Lopes e, recentemente, ao palco num musical de Francisco Santos e o próprio Mário Zambujal. Este “Cafuné” é muito engraçado e recomendo vivamente a leitura. Edição do “Clube de Autor” em Outubro de 2012.

Laurentino Gomes é brasileiro. Nasceu em 1956, é jornalista formado e com várias pós-graduações e cursos no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Tem trabalhado nos principais órgãos de informação do Brasil tendo investigado e escrito duas obras superiores sobre a chegada da corte portuguesa ao Brasil, sua permanência, regresso a Portugal e os primeiros anos de independência do Brasil – “1808” e “1822”. Para percebermos melhor quem somos e qual é o nosso “fado”, aconselho a leitura destas duas magníficas obras. 1ª edição (1808) pela Dom Quixote em Janeiro de 2008 e 3º edição BIS (bolso) em Setembro de 2011.

26 de Setembro de 2013


Silvestre Félix

A BOLA DOS MILHÕES…

Há, a quem os milhões (de euros) lhes saem pela boca fora, à medida que lhes entram pelo bolso dentro.

É um insulto aos normais cidadãos que, neste tempo, se confrontam com carências de toda a ordem começando pelo essencial para a vida.

Por – dá cá aquela bola – embolsam para a sua conta bancária, o suficiente para salvar muitos milhares de pessoas em todo o mundo.  
  

Silvestre Félix

OS FORA-DA-LEI…


A maneira desenvergonhada como alguns membros deste poder promovem sistemáticos atentados ao Estado de Direito é, no mínimo, motivo suficiente para os penalizarmos em futuros atos eleitorais.
Ouvindo um dignatário “explicar” como, e porquê, se deve recalcular os valores atribuídos aos pensionistas da Função Pública antes de 2005, como se tivessem sido os recebedores a fazê-lo e não o Estado, desconfiamos estar com deficiências auditivas ou, então, sem que déssemos por isso, viajando pelo espaço.
Na deles, concretizando a submissão absoluta a Bruxelas livrando-se das “chatas” instituições que ainda defendem os cidadãos, a Constituição e a Liberdade e para nos por definitivamente de joelhos, seria, seguindo a sugestão de um(a) antigo(a) líder partidário(a), “fechar” a Democracia mas, neste tempo, não por seis meses mas por seis anos, pelo menos.
Silvestre Félix

BARACK OBAMA – A DESILUSÃO…


O Presidente americano, em pouco tempo e a propósito do conflito sírio, conseguiu virar contra si a maioria dos que o admiravam no seu País e por esse mundo fora.
Como se pode acreditar, à partida, que Bashar al-Assad criaria de livre vontade o terreno e todos os pretextos para uma intervenção militar americana contra o seu regime, atacando civis com armas químicas?
Muito melhores e certeiros na diplomacia aplicada, estão os “russos”. O Presidente Putin, nestes últimos dias e no que respeita à Síria, tem dado lições a toda a gente e, especialmente, aos defensores do ataque militar ocidental aquele País. A sua ativa intervenção evitou que Obama praticasse um erro com consequências desconhecidas mas, decerto, devastadoras para a região e negativos reflexos para todo o mundo.     
Silvestre Félix

CRESCE OU NÃO CRESCE??


Como se pode ver na foto ao lado, o Presidente da Comissão Europeia está, olhando para o relógio com uma ansiedade sem limites, à espera que o “crescimento” da Europa chegue…
Com Gibraltar outra vez na “berlinda” confrontando os interesses mesquinhos de dois membros da (des)União e com a Catalunha a conseguir unir um cordão humano de 400kms e 1 milhão e meio de pessoas pela separação do reino de Espanha a caminho da independência, os “inteligentes” de Bruxelas aplicam-se a corrigir as tabelas de “Excel”.
Silvestre Félix

AS MELGAS E A MÁFIA...

As pragas de mosquitos e melgas não param de aumentar. As notícias surgem de hora a hora nos canais especializados das nossas respeitosas e sérias televisões e, com grande alarido, nos principais telejornais das generalistas.

O fornecimento de pulverizadores não tem chegado para as encomendas e o inseticida utilizado não tem provado (de propósito) eficácia no combate às várias espécies que por aí vão aparecendo.

As melgas de armação são rasteiras e atacam ao nível do tronco à maneira clássica e mafiosa. Já os mosquitos “swapisados” vêm de todos os lados não olhando ao caminho nem aos meios para chegarem à vítima que, duma forma geral é incauta e pobretanas mas que, bem espremida, ainda vai deitando mais alguma pinga de “sangue”.     

As melgas e mosquitos do nosso civilizado mundo continuam a ter o principal protagonismo nas intervenções dos sábios comentadores, dos informados pivôs, dos avisados porta-vozes, dos imparciais politólogos e dos partido-zangados que viraram independentes (??).

As pragas não desaparecerão enquanto houver “carne à volta do osso”.


Silvestre Félix

(Foto: Lixo - Wikipédia)

CARTAS DO ANDEIRO…

Passando pelo, ainda, serviço público de televisão, detive-me nos amores de Pedro e Inês.

Há já alguns anos se produziu e transmitiu quando “vacas gordas” se passeavam por todo o lado. Agora, que as vacas emagreceram e só se lhes conhecem ossadas espetadas e olhar mortiço, repõem-se boas lembranças e, neste caso, a mais bela e dramática história da nossa “cronologia” desde a fundação da nacionalidade.

A revisita aos acontecimentos históricos do nosso País ajuda-nos a perceber o nosso fado. A época de Pedro e Inês foi véspera da primeira grande provação da existência da Pátria. De Constância, senhora de Inês e primeira esposa de Pedro, nasceria D. Fernando que, com a sua morte em 1383 sem filho varão e filha Beatriz casada com João I de Castela por forte influência da megera rainha Leonor de Teles, deixaria o reino de Portugal nas mãos dos castelhanos. Qual resistência tipo “que se lixe a troika” os bons portugueses expulsaram a dita Leonor e o Conde Andeiro, ficando com o Mestre de Avis pai da ínclita geração e, por ironia das coisas, também filho do Pedro e doutra que não Inês nem Constância.

Sepultados em Alcobaça, no caminho de Peniche, da ginjinha de Óbitos, da onda de Nazaré e muito tempo antes do conselho de ministros no mosteiro, Pedro e Inês, transpiram o amor incondicional e imparável da nação lusa que resiste mais que todas as outras por essa Europa e mundo a fora. Havemos de continuar, deitando ao chão todos os que aqui estão mas jogam como o Andeiro, com cartas por baixo da mesa…


Em reposição na RTP2, “Pedro e Inês”.

Silvestre Félix

(Gravura: Coroação póstuma de Inês de Castro. Wikipédia)

FAVAS “NÃO” CONTADAS…

Entre, apelos à “união nacional” de má memória e pedidos para que a “Constituição da República” não impeça despedimentos na função pública à laia de barata chantagem, Coelho, o primeiro, inicia um novo paleio para levar uns pontinhos nas autárquicas, e deixar a zero as “favas contadas” já assumidas em caminho “seguro” por adversários mal avisados e portadores de profunda desilusão na maneira de ver intuitiva dos senadores maiores.

Nem estão “no papo”, as autárquicas, para o PS, nem remediadas para o PSD ou coligação à direita. Acho que equilibradas para a CDU e pequeninas para o BE. Premiadas e bem-aventuradas para os bem vindos independentes.


Silvestre Félix

(Foto: Câmara Municipal de Sintra - Paços do Concelho)

A LOUCURA COLETIVA

Está tudo doido, não se tratam e querem arrastar os outros para a loucura.

Nem o Pais está tão bem como alguns membros do governo querem constantemente fazer querer, nem os da oposição podem continuar a pedir eleições antecipadas e demissões de ministros ainda agora empossados.

Como diz o Miguel Sousa Tavares hoje na sua crónica do Expresso, qualquer parecida com – Que os politiqueiros se calem… abalem todos de férias que os portugueses já não os podem ouvir…


Silvestre Félix

Gravura: Parte de Alegoria do Triunfo de Vênus, de Agnolo Bronzino.(Wikipédia)

A HONRA ?? E AS JURAS…

Juram solenemente e por honra, cumprir…

Havendo uma entidade reguladora das juras e de qualidade da honra que por aí se semeia, muito trabalho de “citação” teria e não chegariam os portadores das respetivas notificações.

Sempre estão, os que juram cumprir, prontinhos, para propagandear constantes dúvidas, embalando os desencantos e angústias do sacrificado cidadão português.

A toda a hora, o discurso vazio e monocórdico substitui, abusivamente, o trabalho com conteúdo e essencial para o País se encontrar com os merecidos pergaminhos.

Os políticos desta praça vão perdendo margem de sobrevivência para além da tempestade.

Os que estão fora (estando dentro) preparam-se, sem olhar a meios, para trocarem de posição com os que estão dentro e que, depois, estarão fora e passarão a usar os mesmos argumentos dos primeiros e vice-versa.

Não fazem parte deste círculo os outros que nunca conseguiram o poder porque os eleitores não confiaram nas suas propostas. Razões que a consciência dita e que não pode menorizada.

Tudo isto, todas as juras, toda a honra, todo o paleio e todo o interesse de grupo se torna mais condenável para quem cada vez tem menos emprego, menos ordenado, menos pensão e mais taxas e mais impostos.

E as frotas “topo de gama” continuam…

E O POVO, COMO É QUE FICA?


Silvestre Félix

PEÇAS PARTIDÁRIAS...

Não deixei de ter gosto pela escrita. Não! Deixei sim de ter vontade de escrever sobre a atualidade política. Ainda agora, com a televisão lá ao fundo sem som sintonizada na SIC notícias transmitindo em direto o plenário da Assembleia da República, tenho uma imagem perfeita do que hoje, para mim, representam a maioria das “peças” partidárias – agitam-se, esbracejam, mexem os lábios como se gritassem, mas não dizem nada. É este o triste espetáculo que estes “grupos” têm dado aos olhos dos portugueses.

Ao fim de trinta e nove anos de democracia, é chegado o momento do sistema ser refrescado e de ser dada voz aos que não se revêem no espetro partidário. Propostas de alteração da Lei eleitoral e consequente alteração da composição do conjunto dos deputados da República, têm feito parte de múltiplos programas eleitorais mas nunca foram concretizadas.

Os partidos são a base orgânica da democracia mas o eleitor tem de poder votar e eleger o seu deputado e este, por seu lado, ser responsável perante os seus eleitores. Outras organizações cívicas, sociais, de cidadania ou cidadãos individuais, devem ter acesso à disputa eleitoral e respetiva eleição, desde que cumpram determinados pressupostos.


Silvestre Félix

SEM PRINCÍPIOS...

A afirmação “tudo é e não é”, para além do título do último romance de Manuel Alegre, é uma verdade inquestionável, principalmente quando falamos do “universo” da nossa política partidária. As estrelas maiores dos grupos políticos atuam para plateias cada vez mais indefesas. Fazem-no conscientes que têm de mentir melhor que os papagueadores dos grupos adversários. Do desempenho, depende a vitória ou a derrota nas urnas eleitorais.

O grupo que ganha, que mentiu melhor, logo a posse dada começa a fazer o que muito mais interessa ao grupo e à sua clientela deixando rapidamente para trás o prometido (mentido) ao nos palanques da “sofrida” campanha.

O grupo que não ganhou a governação, depressa continua ou se readapta aquela cómoda posição de dizer e reivindicar o que nega ou não faz, quando está do outro lado, na mais apetecida cadeira do poder.

A formatação destes líderes orgânicos assenta nos mesmos “ensinamentos” (sem princípios), sejam do grupo A, B, ou C sendo que, para atingirem aquele mínimo necessário de “sem vergonhice”, têm de ter muitos anos de treino. 

Eles querem que o jogo seja assim – “tudo é e não é“. A vida vai andando, os grupos amanham-se, o amarfanha-se e o País afunda-se.

O grande António Aleixo já dizia que algum dia «pode o Povo querer um mundo novo a sério». Quando isso acontecer, não há “formatação” que valha nem descaramento que os safe!


Silvestre Félix

O NOSSO BOMBORDO...

Da janela do terceiro andar conseguia ver o mundo e o céu. Também via o “escondidinho” e, movendo os maxilares em seco, saboreava a boa bifana. A toda a hora ouvia o pregão do cauteleiro e o premiado número da “Casa da Sorte”. Daquela janela encarava a porta do “Bensaúde” e, na outra margem, a doca seca da “Lisnave”. Os cacilheiros, as faluas e as fragatas mostravam-se num vai e vem sem fim. Pelo lado dos Remolares apareciam os carregadores da “ribeira” com os hortícolas coloridos e as varinas com os pescados de fresco na costa que ainda era nossa. E as vieirinhas do “Porto de Abrigo”? Do terceiro andar, à janela, enfrentava os estendais de roupa a tapar as vistas para as águas-furtadas. E o digestivo do Brithis que o careca e simpático Oliveira servia com rigor minimalista? E o gravateiro chinês, e o engraxador do Califórnia e o paleio do António ao mesmo tempo que trocava as mãos com o bife à casa e as lulas recheadas? Lá, do terceiro andar, mesmo que não estivesse à janela, adivinhava as tretas atiradas pelo Man’el porteiro metido naquela fardeta cinzenta com direito a boné à polícia de pala em rijo cartão forrado. Sempre queixoso como se toda a gente lhe devesse. Sempre o pior parceiro para a “sueca” no armazém, lá, no terceiro andar, no mesmo da minha janela. O Vicente, eu, o Catarino e o Nunes “babávamos” pelo carvoeiro e as sardinhas assadas. As melhores. E mais tarde, porque antes era menu caro p’ra curta féria, o Rio Grande e o frango assado no espeto e o tinto do Cartaxo também viria a fazer parte do roteiro. Debaixo da do Alecrim, corria a Nova do Carvalho que só acordava lá para a hora de almoço com os neons hesitantes. Os marujos e os magalas sempre animavam a noite e sonhavam com amores perdidos numa enxerga de quarto de lavatório e bidé avulso na pensão contratada.

De braços cruzados no parapeito conseguia ver, de olhos fechados, o outro lado da cidade. O cheiro a combustível e o sonoro das turbinas dos B 747, B 707, B 727, DC 10, etc., etc., desmultiplicando no fundo da pista. O Castelo Branco que mal sabia que outro, muitos anos mais tarde, não acrescentava pergaminhos à graça com nome de digna cidade beirã, com toda a sabedoria do muito tempo contado em anos, lá desenrascava a carta de porte do cliente mais exigente. Em modos de sono primário, a partir da janela do terceiro andar, sentia o piso irregular, que sempre me pareceu estar ao contrário, daquele terminal do edifício dezassete. O Nelson do Aguinaldo desalfandegava e queria sempre o maldito BRI que ia e vinha deduzida a cota para a próxima. O “metro” até ao Areeiro e no primeiro andar do 8 ou 44 no verde da “Carris”. De lá, do terceiro andar bem perto do Tejo a horas certas do relógio da esquina do Duque da Terceira e do outro, do “Brithis Bar”, que anda ao contrário, via a escadaria e a fachada dos anos trinta. Subindo, era por ali que entrava, passava pela tabacaria arrastando o vício num pacote de nicotina e lá seguia o caminho e os tapetes, as malas, e, mais à frente, o hangar, as paletes e os contentores e sempre, até hoje, como se lá estivessem, os saudosos cheirinhos e barulhinhos. 

De qualquer janela dum terceiro andar podia, fechando os olhos, sentir o cheiro de África e da terra moçambicana quando a pista de Mavalane me recebeu pela primeira vez. Muito provavelmente porque o Tejo me guiou pelo ar como se navegando fosse pela frente de Belém e dos Jerónimos e saísse pela mesma barra dos antigos navegadores. Podia ter sido, só não fui conquistador e, antes, conquistado. 

Naquele tempo não sabia mas, a Lusofonia, era, e é, o caminho.

Mesmo duma simples janela dum terceiro andar do Cais do Sodré donde via tudo e mais alguma coisa, em mim morava esperança e crença no que aí havia de vir mas, como se percebe, nunca imaginaria ver uma parada militarista em pose prussiana desfilando pela Ribeira das Naus e formar em conjuntos quadrangulares no Terreiro do Paço. 

Nestes tempos de agora, a tribuna de honra continua a estar numa das alas da Praça mas, a conquista, bem cultivada em laboratório e, ignorando o equestre D. José, traveste-se e apresenta-se de escuro fato, gravata e pasta na mão.   


Silvestre Félix

(Fotos: Imagens google)

DE LÁ, VÊM SEMPRE OS BÁRBAROS


E lá do norte, nordeste, sempre vêm os bárbaros. E os do sul, sudoeste, sempre levam com eles. As invasões são cíclicas, chegam pelas piores razões, arrasam tudo o que encontram pela frente e, quando regressam à origem pelos caminhos saqueados, raramente deixam mais alguma coisa que não seja o cheiro a queimado.

A civilização sempre nos chegou do Mediterrâneo. Pelos cultos comerciantes Fenícios, os Povos da Ibéria conheceram as civilizações do Médio Oriente e da Grécia até à chegada dos evoluídos Romanos a toda a Península e com muitas dificuldades de fixação na Lusitânia porque o Viriato não era para brincadeiras nem “bom aluno”. Ainda depois, vieram os Árabes com a ciência e os seus ensinamentos que se perpetuam até hoje. Pelo “Estreito” vieram as mais-valias e o melhor que temos. Somos todos mediterrânicos, “farinha do mesmo saco”, irmãos, primos ou, pelo menos, parentes.

Dos Pirenéus para lá moram outros, “farinha doutro saco”. 

As grandes diferenças civilizacionais não podem ser ignoradas. 

É impossível misturar água com azeite.

O Mar Mediterrâneo é a nossa praceta,

o Oceano Atlântico a nossa rua, a  nossa avenida, o nosso caminho, o nosso mundo

e, a Lusofonia, a nossa essência.

Silvestre Félix

(Gravura: “Os Bárbaros” – Wilipédia)

AS FLORES QUE ERAM VERMELHAS...


Pelas avenidas, pelas ruas becos e travessas, as espingardas gritavam, continuamente, improvisadas palavras de ordem e as flores, que eram vermelhas, transbordavam de felicidade passando de mãos e mãos poisando nos canos das “getrês” e nas largas bocas das pesadas viaturas dos aderentes regimentos de cavalaria.

Os homens e mulheres só tomavam aquele rumo. A “guarda-de-honra” agora era civil e onde estivesse um “Militar-de-Abril” haviam de estar, à sua volta, dezenas, centenas ou milhares de felizes portugueses. 

«Olha, que coisa mais linda…», se dizia, do nosso País, no outro lado do Atlântico e também o Chico; «…ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso Portugal…». E em Abril, Portugal se tornou um mar de esperança.

Quase quarenta de tempo contado em anos a esperança esmorece e a chama está praticamente apagada.

Contudo, a primavera está e as vermelhas que são flores também ainda estão – VIVAS!!

Silvestre Félix

EURO - DESASTRE PREVISTO

Quando ontem escrevi, logo após ter concluído a leitura do livro (http://luadomonte.blogspot.pt/2013/04/porque-devemos-sair-do-euro-de-joao.html) de João Ferreira do Amaral; “ninguém ou muito poucos lhe deram ouvidos”, referindo-me à sua atitude ainda antes do euro existir nos nossos bolsos, fui injusto com outros que igualmente lutaram com quantas forças tinham, para Portugal não embarcar nesta loucura. Refiro, como exemplo, as posições oficiais do Partido Comunista e do então, seu Secretário-Geral, Carlos Carvalhas. Não deixem de ler esta declaração de Carlos Carvalhas proferida em 4 de Maio de 1998.  


Silvestre Félix

21 de Abril de 2013

PORQUE DEVEMOS SAIR DO EURO De João Ferreira do Amaral


“A 10 de Dezembro de 1992, sem qualquer pressão internacional e sem nenhum exército inimigo às portas de Lisboa, a Assembleia da República aprovava o Tratado de União Europeia. (…) Foi a maior capitulação do País desde as cortes de Tomar de Abril de 1581 (…) ” «João Ferreira do Amaral, in introdução»

A leitura deste extraordinário ensaio de João Ferreira do Amaral é essencial para percebermos o erro capital que a elite política portuguesa cometeu, ao ter abdicado de boa parte da nossa soberania, oferecendo a moeda e o poder de a emitir quando dela precisássemos, aos novos conquistadores que se vinham instalando e implantando.   

João Ferreira do Amaral, desde que a ideia da moeda única vingou, alertou muitas vezes para a tragédia que aí viria se, o que era só “ideia”, alguma vez se viesse a concretizar. Ninguém ou muito poucos lhe deram ouvidos e o tempo passou. Infelizmente tinha razão. A ferramenta mais importante para evitar problemas financeiros do Estado e para fazer recuperar a economia, já não a temos – a nossa moeda!

Ao mesmo tempo alguns, (in) parceiros da nossa (des) união, emprestam-nos dinheiro a juros altíssimos enquanto eles se financiam a juros negativos. Com uma prática mais comum entre a agiotagem, poem-nos à míngua e passam de três em três meses para cobrarem a “quota”. Com amigos assim…

Do absurdo às razões de esperança: Novas alianças, novas estratégias”. Título do capítulo 5 do livro. Aqui, o autor mostra-nos outros caminhos para o nosso sucesso como País e como parte integrante e ativa da lusofonia.

O Atlântico é a nossa estrada e por aí devemos ir.

A edição é deste mês de Abril da “Lua de Papel” do universo “Leya”.

Silvestre Félix

(Capa do Livro do FB da editora)

CENSURA??


Esta Moção de Censura é só uma moção de censura!

Nada de novo no “reino de sua majestade” e o rei lá vai, nu, que é como nós andamos todos e como se usa dizer; “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”.

A retórica parlamentar domina a informação desta quarta-feira e, por via disso, os “atores” tomam de assalto o palco e representam os seus “cómicos” papéis com resultados desastrosos. Os encenadores não prestam e devem ser conduzidos rapidamente à reciclagem argumentativa.

Silvestre Félix

RIO DAS FLORES De Miguel Sousa Tavares


Em “Rio das Flores”, a narrativa percorre o final da primeira república e a instauração do estado novo (eufemismo para regime fascista) que se seguiu à ditadura militar resultante do golpe de 28 de Maio de 1926.

Miguel Sousa Tavares descreve, duma maneira muito própria, a vida duma família de grandes proprietários alentejanos. Do amor incondicional à terra até à necessidade de conhecer novos mundos e outras aventuras, tudo cabe, bem distribuído, pela família Ribera Flores. Todos são diferentes e a grande linha divisória assenta na simpatia pelo regime de Salazar a ponto de um dos irmãos participar na Guerra Civil Espanhola pelo lado das tropas de Franco, enquanto o outro, pensava e praticava o antifascismo e, também por via disso, ter trocado o Alentejo pelo tropicalíssimo e acolhedor Brasil.

Rio das Flores” são seiscentas e tal páginas de boa literatura que aconselho vivamente. Não é dos livros mais baratos para os dias que correm mas, em vez de lhe oferecerem um telemóvel, peça um livro como prenda.

Miguel Sousa Tavares é sobejamente conhecido pela televisão e pelas suas brilhantes crónicas do “Expresso”. A 1ª edição desta obra aconteceu em 2007 pela “Oficina do Livro”.

Silvestre Félix

(Gravura: Capa da 1ª edição do livro)

DIA MUNDIAL DA POESIA


«

LÁGRIMA

Dos olhos me cais,

redonda formosura.

Quase fruto ou lua,

cais desamparada.

Regressas à água

mais pura do dia,

obscuro alimento

de altas açucenas.

Breve arquitetura

da melancolia.

Lágrima, apenas.

»

(Eugénio de Andrade - 1958)

VELHICE E BOM SENSO…


A experiência de vida de qualquer um de nós e os anos que o vinho do Porto passa em descanso são, dizem os entendidos, multiplicados em sabedoria e em qualidade.

Todos esperávamos que o mesmo se aplicasse a alguns mediáticos seniores da nossa praça, mas não, com os que, esta semana, pensando, disseram, acontece exatamente o contrário. Quanto mais idade têm, mais pontapés no bom senso dão. Devemos concluir que não é uma questão de idade, é velhice já a roçar a demência porque outros com mais tempo de vida contado em anos se mostram bem mais jovens.

Ao “velho” empresário que no Clube de Pensadores proferiu tão polémicas declarações sobre o miserável rendimento dos trabalhadores portugueses e últimas manifestações, em tempos lhe tínhamos ouvido teorias bem avançadas e progressistas, pelo que, a deceção ainda é maior. Não terá sido por acaso que, ao contrário do que em situações idênticas aconteceu, o “velho” empresário apareceu ao lado do atual Primeiro-Ministro na campanha eleitoral de há dois anos.

O melhor que tem a fazer, o “velho”, é sair de cena e reformar-se definitivamente.

Silvestre Félix

…DE ALMA FERIDA E SEM ESPERANÇA.


Mesmo sob licença duma qualquer empresa americana, eram fabricados por operários, especialistas, projetistas e engenheiros portugueses na portuguesíssima “Sorefame” e, com ela, entraram pela liberdade.

Baloiçado pela cadência do comboio da linha de Sintra, as imagens correm na tela e todos estão ali, mesmo junto a mim. Dias e dias a fio, apoderamo-nos dos mesmos assentos e vemos o mesmo filme que já não foi visado pela comissão de censura.

A jogada perfeita, embora arriscada, é o destrunfo logo de princípio. O filho do ás de espadas já não quer ir para a Guerra. A cadência do comboio da linha de Sintra mede a distância do que está certo e do errado.

Nenhuma Guerra está certa!

Tantas vezes o comboio da linha de Sintra passou, baloiçou o pensamento, nos tempos que vinham embebedados em promessas que depois foram vãs. Todos os dias, em cada viagem para lá e para cá, a esperança e a confiança aconchegou-nos a alma e ensinou-nos a construir o futuro valorizando todas as oportunidades.

Nós estamos, no tempo de agora, de alma ferida, sem esperança e sem confiança.

Eles, não nos perguntam e destroem tudo o que lhes aparece à frente e, ainda por cima e sem vergonha, transformam a desgraça e o infortúnio do desemprego em “douradas” oportunidades.

Os comboios, no tempo de agora, se os houvesse novos na linha de Sintra ou noutras, seriam fabricados por estrangeiríssima empresa e, com ela, a liberdade já não conta para nada…

…de alma ferida e sem esperança.

Silvestre Félix

(Foto: 1º Ministro e protestos 18.03.2013 – DN)

O NOSSO FUTURO...


A “disciplina” de desenho está na moda da “papaguiação” dos (salvo seja) nossos políticos;

     «o memorando foi mal desenhado…», «o programa de rescisões amigáveis está a ser desenhado… », etc., etc.

As singulares vozes também merecem ser rigorosamente identificadas dando-lhes todas as ricas caracterizações que merecem.

Ora, elas são; analazadas, aveludadas ou irritantemente metalizadas. Como são as vozes do poder, não podem ser umas quaisquer, têm de ser especiais e raras.

Como será que está a ser desenhado o nosso futuro?

Silvestre Félix

(Foto: Manif 2 Março – Google)

REVISÕES EM BAIXA


Por muito menos, o patrão mais compreensivo do mundo, já os tinha despedido por justíssima causa e sem indemnização.

Continuam a falar para os “microgaitas” que lhes metem à frente e dizem sempre a mesma coisa. O que mais confusão faz é o facto de, segundo as sondagens e barómetros publicitados, ainda haver portugueses a admitirem poder vir a votar nas atuais estrelas politiqueiras que por aí, ainda andam. 

No final das contas tudo está pior e não se vislumbra nenhum plano milagroso para virar a tendência. Todos dizem, desde Bruxelas ao Largo do Rato passando por São Bento, que só é possível com o crescimento da economia. Pois, todos o afirmam e até o “ZÉ” sabe que assim é, mas nenhum explica como é que isso se faz dentro da União Europeia e com o euro.

Entretanto vamos levando com austeridade recheada de arrogância e hipocrisia da nossa classe política bem arrumadinha nos partidos da situação.

Silvestre Félix

(Foto: Ministro das Finanças – DN)

DIREITO À CIDADANIA


As cadeiras são sempre poucas para os cus que se querem sentar!

Os inteligentes, mandatários do sistema, estão ocupadíssimos neste tempo de composição das listas de bem comportados e esclarecidos seguidores. A ambição de poder, quase sempre má conselheira, eclipsa a necessária, desejada e honesta prestação de serviço às populações.

Em cima das mesas e bancadas partidárias estão interesses inconfessados que, aqui e ali, vão provocando algumas desavenças originando acertos para repor a força da hierarquia, sempre selada com o ok do chefe.

Se não acontecer nada entretanto, grande parte dos cidadãos eleitores destas autárquicas, mais uma vez, não vão poder eleger os seus preferidos porque, simplesmente, eles nem sequer poderão ser candidatos.

As bem oleadas máquinas partidárias continuam a impor os seus “quadros” para as Câmaras e Juntas (ou, agora, união de Juntas), mesmo que eles nunca lá tenham posto os pés, ignorando a vontade dos eleitores e até dos seus militantes locais.

Os portugueses reclamam a devolução do direito à cidadania!

Silvestre Félix

(Foto: Câmara Municipal de Sintra – Wikipédia)

PAPA E OS PECADOS…


Da escolha cardinalícia que se inicia hoje na Capela Sistina vai depender o “próximo” futuro da Igreja Católica Apostólica Romana;

decadência na continuidade ou evolução na reforma.

Para que o catolicismo corresponda aos anseios dos seus seguidores tem de retomar os ventos de mudança iniciados com João XXIII no Concílio Vaticano II. Os cidadãos católicos não querem continuar a ter problemas de consciência ou, no extremo da prática, continuar a pecar, por viverem o seu dia-a-dia fazendo votos de fidelidade eterno no casamento religioso, usando contracetivos ou interrompendo gravidezes em justificadas situações, na condição de padre ceder ao sentimento mais humano e generoso que é o amor ou conformar-se com as limitações de acesso da mulher ao sacerdócio. Por outro lado, as lutas pelo poder e pelo enriquecimento, dentro do Vaticano e mesmo na Cúria Romana, não podem continuar a nublar a pretendida santidade da Igreja.   

Para que o catolicismo tenha um futuro auspicioso o novo Papa tem de ser progressista e reformista, senão, se continuar tudo na mesma, a Igreja Católica Apostólica Romana cairá numa trajetória decadente definitiva. 

Silvestre Félix

(Foto: Basílica de S. Pedro, Vaticano - Reuters/DN)

AFIRMA PEREIRA De António Tabucchi


Desde que, em 1995, pelas telas das nossas salas de cinema passou Marcello Mastroianni interpretando o jornalista Pereira na Lisboa de 1938, que o romance “Afirma Pereira” de António Tabucchi tomou o seu lugar na minha prateleira de livros.

Ver o filme não substitui a leitura do livro e, por isso, voltei a folhear o romance na nova edição de bolso da Leya/Bis. É sempre importante visitarmos Lisboa quando a ditadura fazia o seu percurso, rodeada e guardada pela polícia política, pela censura e por todas as arbitrariedades que o toque fascista se dava ao luxo de cometer. Em plena Guerra Civil Espanhola, com o fascismo de Hitler e Mussolini avançando para a desgraça que viria a ser a Segunda Guerra Mundial e com um salazarismo perfeitamente sintonizado, tinha dias que o natural brilho de Lisboa era substituído por nuvens muito negras.

Se já leram o “Afirma Pereira” voltem a ler, se não, arranjem maneira de o ler. Esta edição de bolso está à venda por menos de seis euros.

António Tabucchi, nasceu em Itália em 1943 e morreu em Lisboa há menos de um ano, a 25 de Março de 2012. Tinha dupla nacionalidade pois desde novo de apaixonou por Lisboa e aqui casou e criou família. Tem uma vasta obra publicada em Portugal, em Itália e no mundo inteiro. De referir que recebeu inúmeros prémios internacionais ao longo da sua vida.

O “Afirma Pereira” foi publicado a primeira vez em 1994. Em Maio de 2012, depois da sua morte, a Leya/Bis publica a 1ª edição de bolso.

Silvestre Félix

HINO IBÉRICO…


Pela janela daquele terceiro andar conseguia ver o mundo.

Via, como tantas outras vezes já disse, o Tejo desde a ponte até à margem do Montijo e Alcochete. Na correria desalmada das marés, enchentes ou vazantes, acompanhava o vai e vem dos cacilheiros, um ou outro grande petroleiro arranjando direção para se enfiar numa das docas secas da Margueira ou esperando, quietinho, ao largo no grande Mar da Palha pelo lado esquerdo do meu ângulo de visão, ainda uma ou outra vela banda duma velha falua ou de simples bote pesqueiro na chegada ao cais.

Conseguia ver, daquela janela do terceiro andar, o ajuntamento desembocado pelos chegados de comboio e que contavam subir a colina pela do Alecrim de amarelo ou então tomarem lugar no 22, 44, 45 ou 8 da Carris para o miolo da Capital. Vi, porque ainda estava na janela do terceiro andar, os protagonistas da Revolução. A multidão cada vez engrossava mais e os militares entravam na praça vindos da rua Bernardino Costa e Arsenal. O meu mundo, naquele dia e visto da janela do terceiro andar, era da cor da vida, da esperança. Os vivas de apoio invadiram o terreiro ao cais e ascenderam ao Camões e ao Chiado com a velocidade de um sopro porque eu vi e senti desde a janela daquele terceiro andar.

O cais do Sodré e da Ribeira foram testemunhas do que consegui ver da janela daquele terceiro andar. Tudo ia ser possível e não voltava a ser preciso forrar a capa dos livros e esconder a primeira página do vespertino “A República”. Os cravos, ainda naquele dia, iam nascer pelas espingardas e a “Grândola Vila Morena” do Zeca Afonso ia ser rainha das cantorias da Liberdade e muito tempo depois contado em anos, seria hino revolucionário cantado em toda a Península Ibérica, desde o parlamento no Palácio de São Bento às manifestações nas ruas de Madrid.

Silvestre Félix

PORQUE NÃO SE CALAM?

PORQUE NÃO SE CALAM? São praticamente os mesmos, que há menos de dois meses, bradavam “aos céus” por medidas mais restritivas, fortes e ...